terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Hoje agora neste instante perdi o índice da minha memória. Sim, o tê do f(t) caducou. Não lembro se o bandejão de meses atrás foi antes, depois ou ao mesmo tempo que a porrada que levei por discordar das instruções quando ainda era quase moleque. Se o porre da chopada foi do primeiro ou do segundo curso. Se a careca era do vestibular ou da genética pela idade. Se meu amigo que morreu de acidente de moto foi o primo indo trabalhar, o tio indo pra gruta, o colego de faculdade quase formado ou o de colégio voltando pra casa. Se os velórios a que não fui foram igualmente por omissão, preguiça ou medo de enfrentar a vida finita. Se minha arrogância venceu a humildade por imaturidade, preconceito ou plena consciência de alguma auto-valorização. Se as lágrimas que caíram foram num desespero escondido no banheiro, no travesseiro antes de dormir ou em frente a todo mundo, igual criança. Se o suspiro profundo foi por conhecer a vida sem luz na roça ou a cidade-luz na europa (minúsculo por respeito). Se os gringos que conheci e nunca mais verei foram da primeira ou da última viagem. Se as moedas que recusei dar à velhinha na rua valiam o mesmo que a esmola entregue ao pivete no sinal - uma por medo, outra por insensibilidade, ambas por egoísmo. Se as piadas patéticas e comentários simplórios reais acumulados por meses monótonos equivaliam à sacada e ao ápice de um grande filme. Se a irresponsabilidade que me jogou pra fora da estrada com minhas irmãs foi mesmo tomada como lição depois. 

Queria ter gravado em vídeo vários momentos que me fugiram da cabeça, pelo menos agora. Óbvio, todo mundo queria. "Tire mais fotos" está escrito no sachê de açúcar. Mas não quero interromper os momentos para fotografar. Então me conformo em viver sabendo que provavelmente foi esquecer. Melhor que gravar o não vivido. Será?

Talvez escrever mais por aqui ajudasse. Fotografia, caligrafia. As duas exigem um tê.