"Erwachsen – was heißt das schon? Vernünftig – wer ist das schon?"
Peter Maffay
Peter Maffay
É chegado o inevitável: uma hora a gente se dá conta de que não resta tanto tempo assim.
Acabei de descobrir que os astrólogos chamam a isso "o retorno de Saturno". Li em algum lugar do que se tratava e realmente é o que tem acontecido comigo ultimamente: um período de reflexão e de tentar estabelecer algumas definições na vida.
Em verdade eu não boto muita fé na predestinação pelos astros (a mi me parece que son como las brujas). Penso que seja muito mais um efeito do tempo vivido e da consciência dos problemas existenciais. Ao fim da terceira década, já passamos por muitas experiências de diversos tipos, dolorosas em vários aspectos, principalmente a insegurança de se sentir sozinho e a proximidade da morte – se não da nossa, a do próximo. Isso acarreta uma necessidade de assentar, projetar o futuro próximo e real – não aquele futuro abstrato e estratosférico da pré-juventude – e colocar os planos em prática. O prazo para cumprir esses objetivos é curto.
Impressionante como o tempo induz a devaneios. Tanto no sentido de variável da função vida, quanto sendo ele o próprio assunto. Há passagens sensacionais da literatura que discutem a seu respeito, como em A Montanha Mágica. Temos a sensação de que o tempo corre mais rápido à medida que passa, pois cada vez menos novidades acontecem. A experiência adquirida nos torna progressivamente menos impressionáveis, pois já experimentamos muitas situações diferentes. E mesmo o que não vivemos torna-se um pouco previsível. Então aquela gigantesca disposição para conhecer coisas novas vai diminuindo; o que fica bom, assim parece, é aproveitar melhor o que acontece de normal todo dia, pois a velhice está cada vez mais próxima. Imagino que seja por isso que todo revolucionário cedo ou tarde acaba aceitando o modo de vida burguês – refiro-me aqui ao burguês, que tem como base a família e a propriedade, seja ele rico ou pobre, e não àquele burguesinho metido do colégio ou do trabalho.
O dilema atual, na verdade, é: tenho atualmente meu estilo de viver, independente sem dependentes, e gosto muito dele; no entanto, vejo quase todos os amigos "passando de fase", id est, contraindo matrimônio, construindo patrimônio e iniciando a prole. Consolidando a pergunta: há mesmo um procedimento correto e seguro para o complexo processo "vida"? Se eu não virar um pai de família agora vou necessariamente tornar-me um ancião solitário, infeliz e rabugento? Pretendo, sim, ter filhos; a idéia, porém, de me casar e abdicar de minha liberdade libertina, de tantas pequenas coisas de que gosto por um suposto bem maior, enfim, de tornar-me finalmente responsável, desanima-me muito. Não seria possível ser responsável de um jeito diferente dessa regra imposta em nossa cultura?
A tradição, ou seja, tudo o que vem sendo trazido através de gerações humanas, ensina que este é o caminho certo e a ordem natural das coisas. Já no livro didático de Biologia: "O ser humano nasce, cresce, reproduz e morre". Claro que o "morre" pode impor-se no lugar em que quiser dessa sequencia e acabar com todas as fases seguintes e que o "reproduz" muitas vezes vem antes do "crescer". Só que ali no meio a sociedade embutiu um "deve casar-se". Espero que isso não seja encarado simplesmente como imaturidade de um homem que não quer encarar o casamento - aquele ritual de passagem fantasiado de evento social, que todos identificam diretamente como passo para um futuro de sucesso - mas sim, de verdade: é mesmo preciso seguir esta fórmula que está aí, que algumas vezes funciona muito bem, outras se torna uma tragédia (em sentido literal ou metafórico), para se alcançar a felicidade? Seria felicidade nada mais que um conceito burguês fechado em seu próprio contexto e impossível em outros? Ou pode ser também um sentimento de satisfação sobre o que se faz em sua vida, na de seus semelhantes e em seu microcosmo e, portanto, acessível a outros modos de vida? Sou só imaturo ou, pelo contrário, estou tentando ver além?
Só dá pra saber vivendo. Daqui a alguns anos talvez eu conte uma história boa a respeito. E se Saturno, aquele planeta burguesinho, voltar aqui outra vez, eu arranco-lhe os anéis pra ele largar de ser metido a besta.
Acabei de descobrir que os astrólogos chamam a isso "o retorno de Saturno". Li em algum lugar do que se tratava e realmente é o que tem acontecido comigo ultimamente: um período de reflexão e de tentar estabelecer algumas definições na vida.
Em verdade eu não boto muita fé na predestinação pelos astros (a mi me parece que son como las brujas). Penso que seja muito mais um efeito do tempo vivido e da consciência dos problemas existenciais. Ao fim da terceira década, já passamos por muitas experiências de diversos tipos, dolorosas em vários aspectos, principalmente a insegurança de se sentir sozinho e a proximidade da morte – se não da nossa, a do próximo. Isso acarreta uma necessidade de assentar, projetar o futuro próximo e real – não aquele futuro abstrato e estratosférico da pré-juventude – e colocar os planos em prática. O prazo para cumprir esses objetivos é curto.
Impressionante como o tempo induz a devaneios. Tanto no sentido de variável da função vida, quanto sendo ele o próprio assunto. Há passagens sensacionais da literatura que discutem a seu respeito, como em A Montanha Mágica. Temos a sensação de que o tempo corre mais rápido à medida que passa, pois cada vez menos novidades acontecem. A experiência adquirida nos torna progressivamente menos impressionáveis, pois já experimentamos muitas situações diferentes. E mesmo o que não vivemos torna-se um pouco previsível. Então aquela gigantesca disposição para conhecer coisas novas vai diminuindo; o que fica bom, assim parece, é aproveitar melhor o que acontece de normal todo dia, pois a velhice está cada vez mais próxima. Imagino que seja por isso que todo revolucionário cedo ou tarde acaba aceitando o modo de vida burguês – refiro-me aqui ao burguês, que tem como base a família e a propriedade, seja ele rico ou pobre, e não àquele burguesinho metido do colégio ou do trabalho.
O dilema atual, na verdade, é: tenho atualmente meu estilo de viver, independente sem dependentes, e gosto muito dele; no entanto, vejo quase todos os amigos "passando de fase", id est, contraindo matrimônio, construindo patrimônio e iniciando a prole. Consolidando a pergunta: há mesmo um procedimento correto e seguro para o complexo processo "vida"? Se eu não virar um pai de família agora vou necessariamente tornar-me um ancião solitário, infeliz e rabugento? Pretendo, sim, ter filhos; a idéia, porém, de me casar e abdicar de minha liberdade libertina, de tantas pequenas coisas de que gosto por um suposto bem maior, enfim, de tornar-me finalmente responsável, desanima-me muito. Não seria possível ser responsável de um jeito diferente dessa regra imposta em nossa cultura?
A tradição, ou seja, tudo o que vem sendo trazido através de gerações humanas, ensina que este é o caminho certo e a ordem natural das coisas. Já no livro didático de Biologia: "O ser humano nasce, cresce, reproduz e morre". Claro que o "morre" pode impor-se no lugar em que quiser dessa sequencia e acabar com todas as fases seguintes e que o "reproduz" muitas vezes vem antes do "crescer". Só que ali no meio a sociedade embutiu um "deve casar-se". Espero que isso não seja encarado simplesmente como imaturidade de um homem que não quer encarar o casamento - aquele ritual de passagem fantasiado de evento social, que todos identificam diretamente como passo para um futuro de sucesso - mas sim, de verdade: é mesmo preciso seguir esta fórmula que está aí, que algumas vezes funciona muito bem, outras se torna uma tragédia (em sentido literal ou metafórico), para se alcançar a felicidade? Seria felicidade nada mais que um conceito burguês fechado em seu próprio contexto e impossível em outros? Ou pode ser também um sentimento de satisfação sobre o que se faz em sua vida, na de seus semelhantes e em seu microcosmo e, portanto, acessível a outros modos de vida? Sou só imaturo ou, pelo contrário, estou tentando ver além?
Só dá pra saber vivendo. Daqui a alguns anos talvez eu conte uma história boa a respeito. E se Saturno, aquele planeta burguesinho, voltar aqui outra vez, eu arranco-lhe os anéis pra ele largar de ser metido a besta.