quinta-feira, 4 de abril de 2013
Visum
Hoje fui ao Ausländerbehörde pra tentar fazer meu visto. Uma experiência de uma hora bem interessante.
O jeito mais fácil seria agendar um horário, levar os documentos, sem fila e pronto. Mas só tem horário livre pra julho e minha permissão sem visto aqui vai até fim de maio. Dizem que se eu posso marcar a entrevista pra depois desse prazo e andar com o papel provando isso, mas prefiro não arriscar.
Como aluno estrangeiro, poderia pedir à universidade pra tirar o visto pra mim, num prazo de 8 semanas. Só levar na secretaria e aguardar. Mas eu queria me livrar logo das pendências burocráticas.
Então fui hoje no modo guerreiro: cheguei uma hora mais cedo, peguei uma fila pra conseguir uma senha e fiquei lá aguardando. Havia uma corrente separando o local da fila, mas com um metro de distância. Nacionalidades diversas, principalmente biótipos de turcos e do sudeste asiático, dentre outros. A fila foi crescendo atrás de mim. Pessoas novas chegavam e se misturavam aos seus parecidos na frente um cara atrás de mim não titubeou e se mandou lá pra frente também. Aos poucos a largura de um metro de fila ficava completamente preenchida de gente. Pedi pra um (provavelmente) vietnamita que me ultrapassava pela direita pra respeitar quem chegou antes - inclusive uma mulher com carrinho de bebê na minha frente. Fingiram que não eram com eles. Muitos fumantes acendiam seus cigarros no meio dos outros.
Aquela fila era pra aguardar a porta se abrir. Fazia muito frio, perto de 0ºC. Quem chegar primeiro tem maior chance de conseguir um número e daí maior chance de conseguir um visto. As pessoas que estavam ali, em sua maioria, pareciam pessoas simples, trabalhadoras. Não pareciam interessadas na cultura alemã, mas sim em arrumar um trampo e ganhar uma grana pra melhorar a vida. Apesar da raiva de ver tanta gente desrespeitando os outros (afinal de contas eu ainda estava entre os primeiros 15% da fila) eu não conseguia sentir raiva deles, porque alguns ali provavelmente já passaram pela mesma fila muitas outras vezes, sem sucesso. Pode ser que não. O certo é que aquela situação ingrata (frio+aglomeração+demora) que leva muitos a ajudarem os amigos desrespeitando os outros (igual fila do bandejão), deve acontecer todo dia. Ou melhor, três vezes por semana. Parece o tipo de situação que serve para lembrar os desprovidos de que eles devem continuar engolindo sapo, sempre, por mais que lutem pra sair da pindaíba. Eu, por outro lado, se não conseguisse aquele dia, tudo bem, poderia voltar bem mais cedo outro dia, pra não passar raiva. E sabia que com todos meus documentos dificilmente seria recusado. Ou então tinha ainda a possibilidade de pedir o visto pelos outros meios mais fáceis, porém mais demorados. Percebi que eu não precisava estar ali; eles sim. E sem garantia nenhuma.
Eis que perto do horário previsto abriram as portas. A muvuca que aquilo virou foi impressionante. Meio que bloqueei a galera atrás pra tentar proteger a mulher com carrinho de neném na frente, até chegar o marido dela, que tava mais na frente conversando com outros. Subindo as escadas, vi vários números passarem Z6, Z8, Z9. O meu visto era do tipo Z2. Eu tinha pegado a fila errada.
Desci de volta no contra-fluxo, achei o lugar certo, com pouca gente, no quentinho - ali sim, era fácil ser civilizado. Infelizmente, já tinham acabado as senhas do dia. Sem pestanejar, peguei rapidinho o metrô de volta pra uni, onde tava rolando um tour de orientação pros estrangeiros se localizarem melhor desde o início. Fui à tarde no International Students Office, levei minha papelada, a funcionária glutona risonha conferiu tudo e pediu pra eu aguardar um e-mail daqui umas semanas, quando eu poderia buscar meu visto.
Não dá pra dizer que tive uma manhã de azar. Só dá pra agradecer o privilégio de não estar na pele daqueles lá e de tantos outros por aí.
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