terça-feira, 13 de outubro de 2009

Só não sabe quem não quer

E, triunfantes, bradaram as palmeiras imperiais: "De agora em diante, nenhum ser vivo nesta Terra padecerá da escuridão; o sol, nosso grande astro, nascerá para todos. É injusto que somente as copas de grandes árvores, os vastos gramados e os animais que se movimentam tenham seu quinhão de calor e luz. Todos terão acesso a essa dádiva divina, por mais tempo cada dia, por mais dias o ano inteiro."

Bichos, plantas e algas regozijaram-se ante a promessa da distribuição igualitária da riqueza maior, o desfecho feliz para todo um bioma. O sol preocupou-se levemente, mas entendeu que era seu dever. Gramíneas soturnas, sem reação, deixaram-se aquecer, até ressecarem. Musgos tornaram-se macios tapetes secos. Damas-da-noite cheiravam a mato decomposto. Minhocas confundiam-se ao feno do terreno. Sapos descoaxavam e corujas chacoalhavam trépidas na aerodinâmica dos besouros.

Os morcegos, sempre indiferentes e marginais, aproveitaram as novas frequentes visitas suculentas às cavernas e não mais precisaram externar-se. Nunca fizeram questão de ver o nitidamente claro e belo mundo tropical paradisíaco que reinava - louvado seja Deus - em todo aquele mundo igualitário e radiante.


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