sábado, 19 de junho de 2010

Radical

Numa coluna da casa
Há a raiz de uma árvore
      Podada

A cada estação cresce a árvore
E mais uma vez é
      Podada

Abaixo da casa
Há uma fundação
Perfurando o solo
A erguer a construção

A raiz disputa lugar com a fundação
A raiz - orgânica - fere a fundação
Acha nutrientes no solo
Para crescer a árvore

Pela coluna da casa
Desce uma canaleta
Na chuva jorra água
Escoa pela ardósia
E some pelo ralo

Um pouco da água não desaparece no ralo
se espalha pela ardósia - prévio solo rígido - e na fissura do piso, em torno do caule
Se esvai
pela
fundação
atinge
o
solo

A água de cima
junta-se
ao solo de baixo
Motivam a raiz a alimentar a planta
E fomentam a guerra - raiz contra fundação

A raiz luta contra a fundação da casa
      Vence

Vitorioso, cresce o caule
Com tímidos galhos
Folhoso verdejante
Vitorioso, logo
      Podado

O sol ilumina a casa e as folhas
A casa estagnada não progride
As folhas iluminadas alimentam
A planta que progride
      Podada

O que vem do alto e do fundo
É pela planta
O que fica no meio, estático
É pelo homem e para ele
Não para a humanidade

A raiz é fundação da árvore
Ainda projetada, inexistente
Abstrata e desarmada
O concreto armado é fundação da casa

Raiz vence concreto
Árvore não vence casa

      Raiz, vens de baixo
      Eu, coluna, ergo-me acima
            orior supra ergo sum
      Não queira deslocar-me
      Oprimo-te em prol da casa

Vitorioso homem sobre natureza
Se acaba o homem, perde a casa
      

3 comentários:

Marcos Nobre disse...

O que vem de baixo, me atinge.

Unknown disse...

Poesia "concreta"?

Torto disse...

hahhaha engraçado demais
gostei